Mexo e remexo
na inquisição:
Só quem já morreu na fogueira
sabe o que é ser carvão...
Eu sou pau
pra toda obra
(...)
minha força não é bruta;
não sou freira,
nem sou puta:
Porque
nem toda feiticeira é corcunda;
nem toda brasileira é bunda;
meu peito não é de silicone...
(...)
Sou rainha do meu tanque;
sou Pagu enguiguirada no palanque.
Fama de porra louca,
tudo bem!!
(...)
Não sou atriz, modelo, dançarina.
Meu buraco é mais em cima...
Porque nem toda feiticeira é corcunda;
nem toda brasileira é bunda;
Meu peito não é de silicone...
(...)
(Pagu: Rita Lee - Por Maria Rita)
PAGU
Patrícia Rehder Galvão, vulgo Pagu, nascida a nove de junho de 1910, foi jornalista e escritora.
Pagu era uma mulher avançada para os padrões da época, pois costumava fumar na rua, usar blusas transparentes, manter os cabelos bem cortados e eriçados e dizer palavrões. Foi amante de Oswald de Andrade e, dizem, pivô da separação dele e Tarsila do Amaral. Em 1930, Oswald se separa oficialmente de Tarsila e se casa com Patrícia.
Como "militante comunista", Pagu se encontra, em missão, com Luís Carlos Prestes, em 1930, ano em que nasceu seu primeiro filho, Rudá. Separa-se de Oswald.
Ao participar da organização de uma greve de estivadores em Santos Pagu é presa: era a primeira de uma série de 23 prisões, ao longo da vida.
Casa-se, em 1940, com o jornalista Geraldo Ferraz. Com ele tem um filho, Geraldo Filho, em 1941. A partir daí, passa a atuar no jornalismo como crítica de arte e se torna animadora cultural em Santos, onde passa a residir. Dedica-se em especial ao teatro, particularmente no incentivo a grupos amadores. Em 1945, lança A Famosa Revista, novo romance escrito em parceria com Geraldo Ferraz. Tenta, sem sucesso, uma vaga de deputada estadual nas eleições de 1950.Ainda trabalhava como crítica de arte, quando foi acometida de um câncer. Viaja a Paris para se submeter a uma cirurgia, sem resultados positivos. Volta ao Brasil e morre em 1962.
Na Literatura, Pagu adentrou com o romance Parque Industrial ( editado pela própria, em 1933), sob o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista (Americ-Edit, 1945), em colaboração com Geraldo Ferraz.
Patrícia Galvão escreveu também contos policiais, sob o pseudônimo King Shelter, publicados originalmente na revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, e depois reunidos em Safra Macabra (Livraria José Olympio Editora, 1988) e, em seu trabalho junto a grupos teatrais, revelou e traduziu grandes autores como James Joyce e Octávio Paz.
Em meio a uma vida conturbada, Pagu foi um ícone de coragem e força, lutou por ideais de um mundo mais humano, por uma sociedade justa. Queimada várias vezes na fogueira da censura, renasceu das cinzas e nunca deixou de acreditar num mundo melhor.
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Os sete pecados que Pagu não cometeu
Por que falar de Pagu hoje?
Justamente por estarmos numa época em que jovens também nos escandalizam e são presos, mas não por lutarem por ideais de um mundo mais humano, por uma política mais "honesta" e uma sociedade igualitária.
São presos, sim, por espancarem uma doméstica num ponto de ônibus; por tramarem o assassinato do pais milionários, por se "associarem" ao tráfico, por "incendiarem" um pobre índio...
Crimes tão horripilantes que mereciam, se não a pena de morte - que não existe no Brasil, eu sei - pelo menos a prisão perpétua. Quem sabe a fogueira?
Eu disse" os jovens são presos"?
Esqueci de completar: mas não permanecem presos.
Está tudo tão sem sentido e não há nada pelo que lutar, nem em que acreditar. Há falta de objetivos comuns e excesso de individualismo: soberba e vaidade.
(...)
(...)
Pagu escandalizava por usar batons de cores muito vivas, por seus cabelos curtos e eriçados, mas sua postura diante da vida era de uma pessoa conscientemente livre e responsável, política e culturalmente engajada. Não tinha nada de fútil.
Nossos jovens escandalizam por usarem roupas muito curtas, por cultuarem o físico acima de tudo e se esquecerem de cultuar também o espírito. A vaidade assumiu condição de "1º mandamento".
(...)
A senhora Patrícia Galvão teve uma vida emocional um pouco conturbada: começou como "amante" de Oswald, separou-se dele, casou de novo. Mas Pagu amou cada um deles, verdadeira e intensamente. Nossos jovens não sabem o que é amar e se entregam a orgias (achou o termo pesado? vide bailes funks e depois conversamos) e libidinagem. Perdeu-se o valor moral, perdeu-se o referencial: relacionar-se é simplesmente usar uns aos outros no que de mais prazeroso houver e só enquanto houver. Troca-se de parceiros indiscriminadamente; simplesmente porque é "legal variar". Sodoma e Gomorra* são aqui e, tamanha lascívia Pagu nunca imaginou: foi sempre fiel ao que sentia; amou e foi amada; tudo lhe foi como uma fatalidade, jamais libertinagem.
(*Sodoma e Gomorra são supostas cidades que de acordo com a bíblia, teriam sido destruídas por Deus com fogo e enxofre descido do Céu. Segundo o relato bíblico, as cidades e seus habitantes foram destruídos por Deus devido a prática de atos imorais, pela Luxúria de seus habitantes)
Enquanto Pagu penava três, quatro, cinco anos de prisão (suportando torturas tão cruéis quanto os atos desses jovens) por acreditar num mundo mais justo, nossos jovens - esses nossos jovens- permanecem três, quatro ou cinco dias presos (ou seriam horas?), zombam da justiça e nos fazem dela "descrer". Nossos jovens acham que o dinheiro pode tudo e que eles estão acima de qualquer lei. Tamanha soberba há de ser castigada.
(...)
Enquanto Pagu penava por acreditar numa sociedade igualitária; esses jovens propagam toda espécie de preconceito: embasado na diferença de classe, cor, time de futebol, profissão, idade etc.
Pagu sonhava com um mundo equilibrado e pensava em distribuir, doar, dividir para equilibrar. Para ela, o todo valia mais que as partes.
Hoje é "somar ao meu, subtrair do teu e multiplicar o meu, dividir o teu". A maioria dos jovens de hoje não sabe o que é ser solidário, prestativo e desapegado e só se importa com dinheiro - de preferência o fácil-, posição social e poder. Se apega a tudo que tem e sempre acha que é pouco. O apego demasiado aos bens materiais é o que se chama Avareza.
Essa sovinice leva a outro pecado que Pagu não tinha: não era invejosa. Não queria ser igual ou melhor que ninguém. Queria ser ela.
Nossos pobres jovens invejam outros pobres mortais e outros não "tão mortais" assim (famosas top models, jogadores, pagodeiros etc) e desejam ser, não COMO eles, mas sim ELES. Desejam, cobiçam. É a inveja que corrói, que destrói.
Enquanto Patrícia Galvão lutava contra a violência (ela a sentira na pele), esses jovens lutam com violência uns contra os outros sem motivo, sem razão, sem sentido. A Ira desmedida é própria de mente doente.
(...)
Antes se tinha pelo que lutar. Hoje temos contra quem lutar.
Antes se tinha esperança de um mundo melhor. Hoje temos o imediatismo de um mundo capitalista - globalizado e, se segura, malandro, dizem que esse é o melhor que se pode ter.
(...)
Antes alimentar o espírito. Hoje acumular "toda e qualquer" matéria. Divina Gula!
(...)
e o meu, o seu, o nosso conformismo (pra mim, sinônimo direto de preguiça) nos faz cúmplices desse mundo pra lá de cruel.
QUEM TEM CORAGEM PARA TER CONSCIÊNCIA?
(...)
QUEM TEM CONSCIÊNCIA PARA TER CORAGEM?*
Pagu - Patrícia Rehder Galvão teve.
*Trecho de Primavera nos Dentes dos
Secos e Molhados
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