LEI DA RELATIVIDADE

Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Na fila

Segunda-feira. Dia 16. Depois de ter ido a quatro agências bancárias, desde manhã, peregrinando; de ter pego filas ENORMES em todas elas, enfrento a última etapa de minha via crucis: a quinta e última fila do dia. Optei por deixá-la por último, pois sei que lá fico pelo menos uma hora. Eis que chega um rapaz e se "instala" atrás de mim.
Algum tempo depois...
- Nossa, que demoooora! (sem respeitar a distância socialmente aceitável entre dois completos desconhecidos...)
-É... (eu com meu livro, sem querer prosa. Afastei um pouco.)
- Eu também costumo trazer algo pra ler, mas hoje saí apressado e esqueci.
- É?! (enfio a cara no livro.)
...um milésimo de segundo depois...
- Pois é... Que livro é esse?
(Mostro o livro.)
-É bom?
- Não sei ainda. Não acabei... (Você não me deixa lê-lo, pensei...mas, não respondi...Pelo menos, não com palavras!!!)
- Mas fala sobre o quê?
-É de filosofia.
-Iiiih. Não gosto disso, não!
-Eu gosto. (a essa altura, já tinha fechado o livro e "a cara". )
- Como você consegue???!! Aquele ar de indignação, misturado com repulsa: um verdadeiro "estranhamento"... Era como se eu estivesse cometendo um crime!
- Eu comprei na banca. ( é claro que entendi a pergunta... só que não queria prolongar o assunto.)
- Não, boba! Eu quis dizer como você consegue ler isso.
_ É simples assim: eu abro o livro e leio. Quando me deixam. ( e com a explicação veio o gestual)
(hahah. cof cof. hihihi.)
O pessoal que estava por perto disfarçou: um fingiu tossir, outro engasgar, etc. A senhora na minha frente olhou rapidamente. Só percebi que ela ria porque seus ombros chacoalhavam no compasso de uma boa risada.
- Eeeeh!Engraçadinha!!! Você sabe o que eu quis dizer... ( já "impaciente" comigo...)
-Sei.
- Então...
- Então o quê? (já impaciente com ele!)
- Ah, deixa quieto.
- Ufa! (suspiro aliviada e tento retomar a leitura.)
- Eu gosto de fazer palavras cruzadas.
- hum!!!?( essa hora eu achei que ia desmaiar...)
- Você gosta?
Nem um milésimo de segundo depois respondi:
-Eu costumava fazer palavras cruzadas também, quando tinha que enfrentar filas. ( Mentira!!! NUNCA levei palavras cruzadas pra fila nenhuma.) Mas sempre tinha alguém que ficava crescendo o olho e dando palpites: canseira (na gíria?!): cha-to. Não, são quantas letras? pen-te-lho. (disse isso quase berrando) Aí parei. Optei por trazer livros de filosofia pra ler, porque aí ninguém fica fazendo perguntas nem quer me contar o final... (disse, em um tom "um pouco" mais baixo)
- É! Realmente isso é desagradável.
-Tão desagradável quanto, quando você traz um livro...
- Tá, tá, já entendi: você não quer prosa. (nem poesia- pensei)
-Uufa! ( que alívio!)
- Falou então. Desculpa aí. ( e se virou pro infeliz, atrás dele...)
-Puxa, que demora...
- Hum-hum. (respondeu o rapaz)
- Acho que tava incomodando a moça. ( em alto e bom tom)
- Hum-hum!
- Pois é... Você veio pagar IPTU?
- Hum-hum!
- Da tua casa ou do teu patrão?
- Da minha. Meu patrão pagou à vista.
-Com desconto?
-Hum-hum.
-Você que veio pagar o dele?
-Hum-hum.
-E tinha muita gente?
-Dia quinze, né? Sempre tem fila.
-Então você já tá acostumado com fila... (ele falava com o rapaz, mas continuava GRU-DA-DO em mim. E falava alto!!!)
-Hum-hum.
-Depois "daqui" você vai pra onde?
- Pode chegar, F. Diz a moça do caixa, que já me conhece de longa data.(Respiro, mais que aliviada!!!!)
-Ah! A moça "braba" chama F. ... (Berra ele, em tom irônico)
(faz 35 anos, imbecil-retruquei, baixinho, de forma que ele não conseguisse ouvir: não queria prolongar o "assunto"!!!)
Ainda o escutei dizer, baixinho, pro rapaz na fila:
- Vai ver que brigou com o namorado na exposição.... ou então é culpa do livro...
filosofia...hum... serve pra quê? É cada uma!!! (e ele estava REALMENTE indignado!!!)
Quando eu estava saindo, (depois de uma hora e quinze em que eu estava NAQUELA fila) ele berrou do outro caixa:
- Tchau, F. Prazer, hein!
Fuzilei-o com os olhos e agradeci a vida por não ter me dado oportunidade de adquirir uma AR-15.

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